Como esperado por todo o mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, aumentou em um ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), para 11,75% ao ano. Foi a nona alta consecutiva, e o BC já avisou que o arrocho ainda está longe do fim. Não por acaso, há quem se arrisque a dizer que a Selic baterá nos 14%, um choque monumental para a atividade econômica, que anda bastante fragilizada. Esse é o preço a pagar pela disparada da inflação, agora pressionada pelos impactos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Mais juros significam menos produção e consumo. Portanto, aumentou consideravelmente o risco de a economia brasileira mergulhar em uma nova recessão. Os juros reais, que descontam a inflação, são o principal termômetro para as decisões de negócios. Quanto mais elevados, piores as condições financeiras para que empresários se sintam motivados a ampliar fábricas e lojas e a contratar mão de obra. Esse indicador saltou para 7,1% anuais, superando de longe o observado no segundo mandato de Dilma Rousseff (4,8%). Hoje, os juros reais no Brasil só são menores do que os 30% registrados na Rússia, que enfrenta sanções econômicas sem precedentes por ter invadido a Ucrânia.
O Banco Central afirma que o quadro econômico atual é desafiador, sobretudo por causa do ambiente externo, que se deteriorou substancialmente. Ressalta, ainda, que a inflação ao consumidor, que passa dos 10% ao ano, segue surpreendendo negativamente e tende a ficar ainda mais pesada por causa da disparada dos preços dos combustíveis. Tais constatações enterram de vez as perspectivas de recuo do custo de vida a partir de abril, como havia previsto a autoridade monetária. Também afastam as chances de a economia respirar, como deseja a população, que sofre com o desemprego e com as dificuldades para pôr comida na mesa — quase 120 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar.
Fonte: Correio Braziliense
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